segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O primeiro.


Hoje, dia 15 de Fevereiro de 2010, inicio este blog.....

Hoje, dia de Inverno em que neva lá fora e a temperatura convida a mantermo-nos em casa e enrolados no quentinho de uma manta...eu saí à rua pois tinha uma aula. Com duas horas de sono...a parecerem mais 20 minutos, fui apanhar o meio de transporte que me leva sempre ao hospital, onde de momento estou a ter aulas de ortopedia.

Desço as escadas, sentindo o frio já a tentar entrar e oiço passar o autocarro...já na porta de saída à minha esquerda vejo a sua traseira no semáforo em que termina a minha rua...como que à minha espera e a gozar comigo... naquela voz de desdém... estou aqui parado mas não é para me apanhares.

Fui então para a alternativa que me restava, era isso ou táxi...então lá fui eu para o eléctrico. Aquele transporte amarelo que transporta todo o tipo de pessoas, destinos e sonhos. Cada vez que entramos não sabemos o que vamos encontrar e o que nos vai passar pela cabeca. Entrei então neste transporte depois de uns minutos à espera, menos do que estava à espera, e assim foi. Olhei à minha volta e vi apenas pessoas banais a tentarem chegar aos seus destinos e a passarem mais um dia das suas singelas vidas. Páro então o meu olhar quando vejo sentado num dos bancos um senhor invisual que leva a seus pés um grande e fofo Golden Retriever, completamente esparramado no chão. Lá estavam eles os dois...o senhor sentado e imóvel quase que estático, como que com atenção para ouvir o nome da próxima paragem. Assim que o nome soa no rádio interno da carruagem, ele levanta-se e aperta o fecho do seu casaco, pois está frio lá fora e abotoa os botões que restam. O cão mantém-se impávido e sossegado. Até que o seu dono se dobra e pega na correia que os liga... que os mantém em contacto e que os faz um só. E ai, só ai o cão se levanta daquela posição quase apática. Dirige-se então para a porta, que para abrir é necessário premir um botão. Mas ele não prime...e quase como por magia ela abre-se, porque nem tudo na vida tem que ser difícil ou dificultar, e saem os dois amigos e companheiros.

Deixam-me os dois com muitos pensamentos...a pensar na sorte que tenho de não ter nenhum problema de saúde, que não tenho dificuldades físicas ou sociais, tenho tudo o que preciso e saúde não me falta. Começo a pensar se haveria alguma razão para não transpirar alegria, para não enfrentar a vida com um sorriso, para não acreditar que tudo pode ser melhor. Percebi que as vezes podemos ter problemas, podemos não encontrar soluções e pensar que está tudo perdido, mas a verdade é que existe sempre alguém neste mundo que está pior que nós...que não tem amor, não tem saúde, não tem comida, não tem dinheiro, não tem condições básicas de vida, não tem NADA. Então porque não haverei eu, que não me falta nada, enfrentar cada dia com um sorriso nos lábios e esperar sempre pelo melhor. Sei que tenho muita sorte e sou uma privilegiada por ter tudo o que necessito para ser feliz!

Quero nesta primeira entrada deixar um sorriso para todos aqueles que acham que não têm razões para sorrir...pois tudo é muito mais fácil e a vida corre muito melhor se a aprenderem a enfrentar com um sorriso e com o sentimento de que a força pode vir de coisas pequenas como ver a beleza do mundo, ver quadros como este que vos descrevo e ver que apesar de haver muitas coisas más…podemos sempre dar o nosso melhor e o que temos de bom para melhorar cada dia.

1 comentário:

  1. um sorriso e quiçá riso, ao invés do ouro, são tesouro"! Nunca canso de dizer esta frase pois reflecte muito da filosofia que transmites neste texto, tendo sido uma das principais ideias que me levou a escrevê-la naquele poema que conheces :). O ser Humano inconscientemente tente a focar, pensar e lutar sempre por mais e pela perfeição. Seja por objectivos pessoais,bens materiais, sucesso familiar e profissional, qualidade de vida. Quando as nossas necessidades básicas estão asseguradas, como as fisiológicas,seguem-se em cascatas as as superiores e consequente secundárias (segurança, amor/relacionamento, estima,realização pessoal) como já dizia Maslow e outros autores. A verdade é que numa sociedade cada vez mais cosmopolita e stressante, em que o Homem moderno tem que primar cada vez mais pela versatibilidade, competividade e perfeição, o próprio meio em que o homem se encontra favorece que o esquecimento e a reflexão sobre o bem que tem e os que têm menos (principalmente nas grandes cidades, em que o contacto com o próximo tende a ser mais raro). Basta pensarmos nas centenas de milhões de pessoas com deficiência, subnutridas ou escravizadas em todo o mundo para percebermos a sorte que temos em ter saúde, um lar, uma sociedade tolerante e desenvolvida. O segredo para ser feliz está inegavelmente também nesta filosofia que aqui transmites. Ainda bem que lutamos sempre por uma vida melhor, pois só assim a própria sociedade evolui, mas é também importante e muitas vezes fundamental dar valor ao que temos, pois ganhamos outra perspectiva mais rica e muitas vezes "antidepressiva" da vida.
    Uma vez numa aula do curso dei uma volta à escola e ao parque da saúde de olhos vendados, para melhor percepcionar como é o "mundo" em que um invisual vive e as dificuldades que sente na falta de acessos facilitados, na incompreensão de quem os rodeia, em simples obstáculos na via, ao passar uma estrada e por exemplo, a diferença que faz ser acompanhado por alguém, pelo braço, e a diferença que implica o posicionamento do acompanhante. É uma experiência que aconselho a todos! Boa sorte para o blog;)!beijo grande**

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