quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

A Saudade!

Saudade...palavra tão portuguesa e que tanto me diz. Já faz uns anos que estou longe de casa, e muitas coisas se passaram. No inicio não tinha qualquer tipo de noção sobre o que era estar longe, nem nunca pensei que ia sentir tanto na pele a falta dos que amo e de tudo o que sempre senti como meu e como garantido. Mas agora sinto que só mesmo alguém que passa por uma situação assim é que sabe como é.
A verdade e que ao fim destes anos muita coisa se constrói...
Muitos amigos feitos, uma casa alugada e preocupações que só os “adultos” têm. Pagar contas, resolver problemas e decidir sobre a minha vida sem ter os pais sempre por perto. A verdade é que tem sido uma experiência que me tem ajudado a crescer bastante, algo que me tem feito analisar muito a minha vida, todas as minhas prioridades e valores.
Sei que também me tem ajudado a lidar com pessoas completamente diferentes de mim. A aprender a moldar-me aos outros e a aceitá-los como são.
Às vezes penso para os meus botões: será este sentimento saudade, sentido por nós, portugueses, de maneira diferente!? Pelo legado que nos foi deixado pelos nossos antepassados, pela nossa história de imigração, pelo nosso Fado...todas estas coisas que dão sentido a palavra saudade. Pelos outros povos que não tem a designação deste sentimento, parece, por vezes, que o sentem de maneira diferente, menos intensa talvez...
É de facto um sentimento que dói, um sentimento que custa ao coração mas com certeza não será sempre uma coisa má. A verdade é que só sentimos saudades se aquilo que deixamos para trás nos é muito querido, e por isso vale a pena! Isso é prova que somos seres sensíveis e humanos, aí se prova que estamos vivos e somos capazes de viver sentimentos que quando estamos longe nos fazem sofrer, mas quando estamos perto nos dão a maior alegria. Às vezes até tenho medo de perder a capacidade de sentir estas coisas ...estes sentimentos.
O amor que temos dentro de nós é o que nos faz lutar, a vontade de ter certas coisas é o que nos faz mudar e tentar melhorar. A saudade apenas faz parte de todo este rol de sentimentos que muitos dizem não sentir, ou fingem não ser capazes de sentir. É triste quando alguém vive para se proteger de sentir!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

O primeiro.


Hoje, dia 15 de Fevereiro de 2010, inicio este blog.....

Hoje, dia de Inverno em que neva lá fora e a temperatura convida a mantermo-nos em casa e enrolados no quentinho de uma manta...eu saí à rua pois tinha uma aula. Com duas horas de sono...a parecerem mais 20 minutos, fui apanhar o meio de transporte que me leva sempre ao hospital, onde de momento estou a ter aulas de ortopedia.

Desço as escadas, sentindo o frio já a tentar entrar e oiço passar o autocarro...já na porta de saída à minha esquerda vejo a sua traseira no semáforo em que termina a minha rua...como que à minha espera e a gozar comigo... naquela voz de desdém... estou aqui parado mas não é para me apanhares.

Fui então para a alternativa que me restava, era isso ou táxi...então lá fui eu para o eléctrico. Aquele transporte amarelo que transporta todo o tipo de pessoas, destinos e sonhos. Cada vez que entramos não sabemos o que vamos encontrar e o que nos vai passar pela cabeca. Entrei então neste transporte depois de uns minutos à espera, menos do que estava à espera, e assim foi. Olhei à minha volta e vi apenas pessoas banais a tentarem chegar aos seus destinos e a passarem mais um dia das suas singelas vidas. Páro então o meu olhar quando vejo sentado num dos bancos um senhor invisual que leva a seus pés um grande e fofo Golden Retriever, completamente esparramado no chão. Lá estavam eles os dois...o senhor sentado e imóvel quase que estático, como que com atenção para ouvir o nome da próxima paragem. Assim que o nome soa no rádio interno da carruagem, ele levanta-se e aperta o fecho do seu casaco, pois está frio lá fora e abotoa os botões que restam. O cão mantém-se impávido e sossegado. Até que o seu dono se dobra e pega na correia que os liga... que os mantém em contacto e que os faz um só. E ai, só ai o cão se levanta daquela posição quase apática. Dirige-se então para a porta, que para abrir é necessário premir um botão. Mas ele não prime...e quase como por magia ela abre-se, porque nem tudo na vida tem que ser difícil ou dificultar, e saem os dois amigos e companheiros.

Deixam-me os dois com muitos pensamentos...a pensar na sorte que tenho de não ter nenhum problema de saúde, que não tenho dificuldades físicas ou sociais, tenho tudo o que preciso e saúde não me falta. Começo a pensar se haveria alguma razão para não transpirar alegria, para não enfrentar a vida com um sorriso, para não acreditar que tudo pode ser melhor. Percebi que as vezes podemos ter problemas, podemos não encontrar soluções e pensar que está tudo perdido, mas a verdade é que existe sempre alguém neste mundo que está pior que nós...que não tem amor, não tem saúde, não tem comida, não tem dinheiro, não tem condições básicas de vida, não tem NADA. Então porque não haverei eu, que não me falta nada, enfrentar cada dia com um sorriso nos lábios e esperar sempre pelo melhor. Sei que tenho muita sorte e sou uma privilegiada por ter tudo o que necessito para ser feliz!

Quero nesta primeira entrada deixar um sorriso para todos aqueles que acham que não têm razões para sorrir...pois tudo é muito mais fácil e a vida corre muito melhor se a aprenderem a enfrentar com um sorriso e com o sentimento de que a força pode vir de coisas pequenas como ver a beleza do mundo, ver quadros como este que vos descrevo e ver que apesar de haver muitas coisas más…podemos sempre dar o nosso melhor e o que temos de bom para melhorar cada dia.